segunda-feira, 30 de junho de 2008

O ciclo infernal dos aumentos em cadeia

Preço do petróleo alimenta subida do custo de vida
Inflação da Zona Euro sobe para recorde de quatro por cento
Segundo dados do Eurostat citados pelo Jornal Público de hoje, a inflação na Zona Euro voltou a agravar-se em Junho para quatro por cento, atingido o valor recorde desde a criação do espaço do euro, em 1999.
A primeira estimativa do departamento de estatística da Comissão Europeia, o Eurostat, justifica o agravamento generalizado dos preços e do custo de vida dos europeus da Zona Euro com a subida continuada do preço do petróleo, que na semana passada ultrapassou o valor simbólico dos 140 dólares (88,50 euros) por barril em Londres, e dos produtos alimentares. Entre Maio e Junho, a taxa de inflação subiu de 3,7 para quatro por cento, um valor que constitui igualmente um recorde desde 1990, para o conjunto dos países que hoje fazem parte da Zona Euro, mas que na década de noventa do século passado ainda não se constituíam como zona económica.
Para os economistas contactados pela agência financeira Dow Jones Newswires, a cifra de Junho é uma décima superior às suas estimativas, razão suficiente para Banco Central Europeu agravar o preço do dinheiro já na quinta-feira dos actuais quatro para 4,25 por cento, sustentam os analistas.
Jean Claude Trichet, cujas últimas extemporâneas declarações normalmente têm condicionado os mercados por antecipação, desta vez parece não ter margem de manobra para evitar esta escalada cíclica comandada pelos sucessivos aumentos especulativos do preço do petróleo, que justificaria em pleno uma acção coordenada de todas as autoridades económicas mundiais.
Em termos económicos e num sistema de mercado aberto, é verdade que o preço dos bens e matérias primas é ditado, em última análise, pela «lei básica da oferta e da procura».
Mas também é verdade que a presente crise apresenta uma componente expeculativa baseada no mercado de futuros que está, por um lado a permitir aos expeculadores lucros fabulosos, e por outro lado a aumentar abismalmente o fosso que separa os povos mais ricos daqueles que lutam simplesmente pela sobrevivência.
Na situação presente, a economia deve ser balisada por interesses mais importantes de cariz social que só uma acção político-económica concertada dos Estados pode corrigir. Sob pena de se estar a permitir que a situação chegue ràpidamente a uma fractura social insanável.
O problema actual que aumenta em espiral a disparidade entre quem, apesar de tudo aínda só corta nos custos do Wellfair State e aqueles que, nada tendo a perder senão "a própria vida já perdida e dos seus", se abalançam a uma corrida desenfreada para as zonas mais ricas, como a Europa, já há muito foi antecipado quando do chamado "diálogo Norte-Sul" de há algumas décadas, que em Portugal teve sempre um defensor acérrimo, Mário Soares.
Pena é que os Estados ricos envolvidos se tenham limitado a emprestar dinheiro aos Estados Africanos abaixo do nível de sobrevivência com juros que estes nunca puderam pagar e a governantes que se apropriaram dessas ajudas em proveito próprio sem quaisquer excrúpulos e com a passividade de todos.
Razão tem o leitor do Público, Hernandez - Lisboa, para em comentário se perguntar: "Aumenta a inflação e o BCE aumenta as taxas de juro, aumentam as taxas de juro aumenta a cotação do euro face ao dolar, aumenta a cotação do euro face ao dolar aumenta o preço do petroleo, aumenta o preço do petroleo aumenta a inflação... É uma visão simplista de quem não percebe nada de economia mas se isto for verdade onde irá parar?"

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