sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Estará o Sr. Silva das vacas senil, ou quer tomar-nos a todos por parvos ?

Segndo o Jornal de Negócios Online de 24 de Fevereiro de 2012

O Presidente da República assumiu hoje ter ficado "um pouco surpreendido" com os números do desemprego apresentados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística.

"Fiquei um pouco surpreendido", respondeu Cavaco Silva, citado pelo site do “Público”, quando confrontado com os números do desemprego, com a taxa a atingir um recorde e 14% no último trimestre de 2011. O Presidente da República realçou a preocupação com o desemprego jovem, que se situa em 35,4%. Questionado se acha que a emigração dos jovens é uma solução, Cavaco respondeu: "Espero bem que não."

Ora, face a esta "estupefacção" do PR, não poderemos deixar de fazer as seguintes considerações:

De tantos «tiros no pé», este PR vai certamente conseguir acabar o seu mandato com a pior opinião possível por parte dos Portugueses, dentre todos os PR desta recente democracia. 
Consegue estar nesta altura ao nível do salazarengo Almirante Américo Tomaz (O Urso Branco), que só inaugurava fontanários pelo País e mantinha no poder a matilha que «torpedeou» aquilo a que a História chamou de "primavera marcelista".
Enfim, parece que está senil...pois, para um doutorado por "York", os números que forem aparecendo quanto à conjuntura, nomeadamente os do desemprego, NUNCA poderão causar estranheza, dada a situação económico/financeira que os nossos recentes políticos, PASSADOS e PRESENTES, nos conseguiram criar! E aínda mais porque sabemos que as actuais percentagens são "por baixo", dado que as reais não são tidas em conta nas estatisticas.
Só quem nunca avaliou o "papel de embrulho" que os Centros de Emprego constituem é que não sabe que há muito que...um grande número de desempregados desistiu de aí se inscrever. E as percentagens só dizem respeito a inscrições oficiais, O QUE CONVÉM para a estatística, claro!
E, se calhar, também irá mostrar-se admirado pelo facto de a maioria dos nossos "empresários" estar mais interessado nos seus próprios lucros imediatos à custa de uma política passadista de «downsizing => desemprego» (como se mostrou no seu objectivo principal de embaratecer o despedimento) do que em investir, inovar e criar empregos...o que até demoraria muito tempo mesmo que houvese essa intenção, que NÃO HÁ NA REALIDADE.
Por ventura, este Sr Silva, PR, também não se terá dado aínda conta de que o que está a manter a economia a funcionar são, não os 25% oficiais atribuidos à ECONOMIA PARALELA, mas sim os já quase 40% REAIS da mesma?
Mas tudo tem um limite e ele, como todos sabemos, já foi ultrapassado há muito...
Por isso, talvez fosse de lhe recordar e ao seu "miudo" Passos Coelho, aqulele velho ditado português,

«Quem semeia ventos...colhe tempestades».

Carta aberta ao Sr. Silva das vacas...escrita por José Nogueira Pardal

"Exmo Senhor Presidente da República
Lisboa

Vou usar um meio hoje praticamente em desuso mas que, quanto a mim, é a forma mais correcta de o questionar, porque a avaliar pelas conversas que vou ouvindo por aqui e por ali, muitos portugueses gostariam de ver esclarecidas as dúvidas que vou colocar a V/Exa e é por tal razão que uso a forma "carta aberta", carta que espero algum dos jornais a que a vou enviar com pedido de publicação dê à estampa, desejando que a resposta de V/Exa fosse também pública.

Tenho 74 anos, sou reformado, daqueles que descontou durante 41 anos, embora tenha trabalhado durante 48, para poder ter uma reforma e que, porque as pernas já me não permitem longas caminhadas e o dinheiro para os transportes e os espectáculos a que gostaria de assistir não abunda, passo uma parte do meu dia a ler, sei quantos cantos há nos Lusíadas, conheço Camilo, Eça, Ferreira de Castro, Aquilino, Florbela, Natália, Sofia e mais uns quantos de que penso V/Exa já terá ouvido falar e a "navegar na net".

São precisamente as "modernices" com que tenho bastante dificuldade em lidar que motivam esta minha tomada de posição porquanto é aí que circulam a respeito de V/Exa afirmações que desprestigiam a figura máxima do País Portugal, que, em minha opinião, não pode estar sujeita a tais insinuações que espero V/Exa desminta categoricamente.

Passemos à frente das insinuações de que V/Exa foi 1º Ministro de Portugal durante mais de dez anos, época em que V/Exa vendeu as nossa pescas, a nossa agricultura, a nossa indústria a troco dos milhões da CEE, milhões que, ao contrário do que seria desejável, não serviram para qualquer modernização ou reforma do nosso País mas sim para encher os bolsos de alguns, curiosamente seus correligionários, senão mesmo, seus amigos. Acredito que esse tempo que vivemos sob o comando de V/Exa e que tanto mal nos fez foi apenas fruto de incompetência o que, sendo lamentável, não é crime, os crimes foram praticados por aqueles que se encheram à custa do regabofe, perdoe-me o popularismo, que se viveu nessa época e que, curiosamente, ou talvez não, continuam sem prestar contas à justiça.

Entremos então no que mais me choca, porque nesses outros comentários, a maioria dos quais anónimos mas alguns assinados, é a honestidade de V/Exa que é posta em causa e eu não quero que o Presidente da República do meu país seja o indivíduo que alguns propalam pois que entendo que o cargo só pode ser ocupado por alguém em quem os portugueses se revejam como símbolo de coerência e honestidade, é assim que penso que nesta carta presto um favor a V/Exa, pois que respondendo às questões que vou colocar, findarão de vez as maledicências que, quero acreditar, são os escritos que por aí circulam.

1ª Questão

Circula por aí um "escrito" que afirma que V/Exa, professor da Universidade Nova de Lisboa, após ser ministro das finanças, foi convidado para professor da Universidade Católica, cargo que aceitou sem se ter desvinculado da Nova o que motivou que lhe fosse movido um processo disciplinar por faltar injustificadamente às aulas da Nova, processo esse conducente ao despedimento com justa causa, que se teria perdido no gabinete do então ministro da educação, a quem competiria o despacho final, João de Deus Pinheiro, seu amigo e beneficiado depois de V/Exa ascender a 1º Ministro com o lugar de comissário europeu, lugar que desempenhou tão eficazmente que o levou a ficar conhecido como "comissário do golfe".

Pergunta directa:

Foi ou não movido a V/Exa um processo disciplinar enquanto professor da Universidade Nova de Lisboa ?
Se a resposta for afirmativa, qual o resultado desse processo ?
Se a resposta for negativa é evidente que todas as informações que andam por aí a circular carecem de fundamento.

2ª Questão

Circulam por aí vários escritos sobre a regularidade da transacção de acções do BPN que V/Exa adquiriu. Sendo certo que as referidas acções não estavam cotadas em bolsa e portanto só poderiam ser transaccionadas por contactos directos, vulgo boca a boca, faço sobre a matéria várias perguntas:

1ª - Quem aconselhou a V/Exa tal investimento ?
2ª- A quem adquiriu V/Exa as referidas acções ?
3ª- Em que data, de que forma e a quem vendeu V/Exa as acções ?
4ª- Sendo V/Exa um renomado economista, não estranhou um lucro de 140% numa aplicação de tão curto prazo ?

3ª Questão

Tendo em atenção o que por aí circula sobre a Casa da Coelha, limito-me a fazer perguntas:

1ª- É ou não, verdade, que o negócio entre a casa de Albufeira e a casa da Coelha foi feito como permuta de imóveis do mesmo valor para evitar pagamento de impostos ?
2ª- Se já foi saldada ao estado a diferença de impostos com que atraso em relação à escritura se processou a referida regularização ?
3ª- É ou não verdade que as alterações nas obras feitas na casa da Coelha, nomeadamente a alteração das áreas de construção foram feitas sem conhecimento da autarquia ?
4ª- A ser positiva a resposta à pergunta anterior, se já foi sanado o problema resultante de obras feitas à revelia da autarquia, em que data foi feita tal regularização e se foi feita antes ou depois das obras estarem concluídas ?
5ª- Última pergunta, esta de mera curiosidade, será que V/Exa já se lembra do cartório em que foi feita a escritura ?

4ª- Questão

Esta não circula na Net, é uma questão que eu próprio lhe coloco:

Ouvi V/Exa na TV dizer que tinha uma reforma de 1300 €, que quase lhe não chegava para as despesas, passando fugazmente pela reforma do Banco de Portugal. Assim, pergunto:

1ª- Quantas reformas tem V/Exa ?
2ª- De que entidades e a que anos de serviços são devidas essas reformas ?
3ª- Em quantas não recebe 13º e 14º mês ?
4ª- Abdicou V/Exa do ordenado de PR por iniciativa própria ou por imposição legal ?
5ª Recebe ou não V/Exa alguns milhares de euros como "despesas de representação" ?

Fico a aguardar a resposta de V/Exa com o desejo de que a mesma seja de tal forma conclusiva e que, se V/Exa o achar conveniente, venha acompanhada de cópias de documentos, que provem a todos os portugueses que o que por aí circula na Net, não passam de calúnias e intrigas movidas contra a impoluta figura de Sua Exa o Senhor Presidente da República de Portugal.

A terminar e depois de recordar mais uma das suas afirmações na TV, lembro uma frase do meu avô, há muito falecido, alentejano, analfabeto e vertical:" NÃO HÁ HOMENS MUITO, OU POUCO SÉRIOS, HÁ HOMENS SÉRIOS E OUTRAS COISAS QUE PARECEM HOMENS".

Por mim, com a idade que tenho, já não preciso nem quero nascer outra vez, basta-me morrer como tenho vivido.
Sério.
Com os meus melhores cumprimentos.

José Nogueira Pardal

--O remetente declara-se Objector do Acordo Ortográfico"

Nota: O Voo do Falcão declara-se TOTALMENTE SOLIDÁRIO com o texto acima e só tem pena de "não ter tido o engenho e arte" para o ter escrito tão claramente como este o foi...

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Leis anti-corrupção em Portugal...

 Quinta feira, 5 de Janeiro de 2012, o fiscalista Tiago Caiado Guerreiro, a quem nos anos mais próximos não deverá ser permitido voltar a pôr os pés numa televisão, explicou no programa «Opinião Pública» da SIC Notícias como, em Portugal, as leis são feitas exactamente para não ser possível apanhar as pessoas em situação de corrupção...Aliás, todos nós conhecemos casos, ao longo do país todo, de fortunas inexplicáveis que continuam inexplicáveis e que apareceram de repente, após o exercício de cargos políticos ou em ligação com o Poder...as parcerias público-privadas são de certeza casos de polícia e o BPN, são dois casos paradigmáticos em Portugal

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A fabulosa ascensão de uma "Super-Girl" do Reino Laranja...

Este blog recebe diàriamente dezenas de emails de denúncias de situações escandalosas e que têm de ser denunciadas. No entanto, é nosso hábito confirmar a sua veracidade e, se possível, actualizar a informação recebida. É este o caso deste post.

Num email recebido, com informação do ano passado, faz-se simplesmente referência a uma «senhorita» que teria transitado de simples jornalista do DN para Assessora de Imprensa do Ministro da Economia com um vencimento de espantar...

Como a realidade é bem mais grave e convirá saber donde veio, onde esteve e para onde foi a tal «senhorita», aqui fica esse testemunho.

Nome: Maria de Lurdes Vale
Profissão: Jornalista do DN, que passou anteriormente pela Embaixada Portuguesa em Madrid e que aí, cumulativamente, foi correspondente da estação televisiva SIC

Como jornalista do DN, assinou diversos artigos extremamente corrosivos contra o Governo de José Sócrates em plena campanha eleitoral de Junho do ano passado e, em artigo inserto no mesmo em 20 de Fevereiro de 2011 de título "Contra os que sempre passaram à frente", escrevia o seguinte:

"...Estamos a viver tempos de insatisfação crescente. As perspectivas sobre a situação económica não são as melhores e há reformas que vão ter de ser feitas para que Portugal possa continuar a manter o mínimo de credibilidade junto dos seus parceiros europeus. O desemprego vai aumentar, os cortes nos salários vieram para ficar e os portugueses vão ter de se habituar a sobreviver com muito menos. Terá de haver uma mudança de vida profunda, e já ninguém terá paciência para ser cúmplice de um regime que premeia os amigos e os conhecidos em detrimento dos que tiveram de fazer o caminho à sua própria custa. Ao contrário do que muitos pensam, esta revolta dos jovens de hoje talvez seja a primeira depois do 25 de Abril que tem pés e cabeça."

Ora, face ao que expôs em tal artigo e que tivemos a oportunidade de assinalar, seria de esperar que a sua posição política e profissional após a vitória do PSD nas Legislativas de Junho de 2011 fosse coerente com o pensamento expresso.
Mas verificamos desde logo que não, quando a Agência Financeira de 6 de Agosto de 2011 às 19:38 noticia o seguinte:

"O Ministério da Economia e do Emprego nomeou dois assessores com estatuto remuneratório equiparado a director-geral, pelo que irão receber um salário mensal bruto de 3.892,53 euros.
É o que consta nos despachos publicados ainda na sexta-feira, em Diário da República. Em causa, estão os cargos de Eduardo Raul Lopes Rodrigues - técnico superior da Direcção-Geral das Actividades Económicas, nomeado «em comissão de serviço e sem suspensão do estatuto de origem, para realizar estudos e trabalhos técnicos no âmbito das respectivas habilitações e qualificações profissionais» - e de Maria de Lurdes Vale, a assessora de imprensa mais bem paga do Governo.
Diz o diploma que estes dois assessores vão auferir a «remuneração correspondente ao estatuto remuneratório do cargo de direcção superior de 1.º grau, incluindo subsídio de alimentação, acrescida dos subsídios de férias e de Natal».

Os argumentos do Ministro
...
Quanto a Maria de Lurdes Vale, assessora de imprensa que o ministro foi buscar ao «Diário de Notícias», a jornalista foi nomeada para «realizar estudos e trabalhos técnicos no âmbito das respectivas habilitações e qualificações profissionais, na área da informação e comunicação social», refere o mesmo diploma.

Nem os assessores do primeiro-ministro ganham tanto como Maria de Lurdes Vale. A própria argumentou ao mesmo jornal que tem a cargo a assessoria de comunicação de um «superministério que, além do ministro, tem seis secretarias de Estado» e lembrou ainda que «tem um curriculum de 23 anos de experiência»."

Curiosamente, nem se tinham passados 4 meses sobre este prémio da Lotaria Clássica e eis que lhe sai o Euromilhões, ou seja, é nomeada administradora do Turismo de Portugal!

E esta, heim? Tal como diria o saudoso Fernando Pessa.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Revolta das Palavras - post por José António Barreiros em 2011.10.11


"Isto que eu vou dizer vai parecer ridículo a muita gente.

Mas houve um tempo em que as pessoas se lembravam ainda, da época da infância, da primeira caneta de tinta permanente, da primeira bicicleta, da idade adulta, das vezes em que se comia fora, do primeiro frigorífico e do primeiro televisor, do primeiro rádio, de quando tinham ido ao estrangeiro.

Houve um tempo em que, nos lares, se aproveitava para a refeição seguinte o sobejante da refeição anterior, em que, com ovos mexidos e a carne ou peixe restante se fazia "roupa velha". Tempo em que as camisas iam a mudar o colarinho e os punhos do avesso, assim como os casacos, e se tingia a roupa usada, tempos em que se punham meias solas com protectores. Tempos em que ao mudar-se de sala se apagava a luz, tempos em que se guardava o "fatinho de ver a Deus e à sua Joana".

E não era só no Portugal da mesquinhez salazarista. Na Inglaterra dos Lordes, na França dos Luíses, a regra era esta. Em 1945 passava-se fome na Europa, a guerra matara milhões e arrasara tudo quanto a selvajaria humana pode arrasar.

Houve tempos em que se produzia o que se comia e se exportava. Em que o País tinha uma frota de marinha mercante, fábricas, vinhas, searas.

Veio depois o admirável mundo novo do crédito. Os novos pais tinham como filhos, uns pivetes tiranos, exigindo malcriadamente o último modelo de mil e um gadgets e seus consumíveis, porque os filhos dos outros também tinham. Pais que se enforcavam por carrões de brutal cilindrada para os encravaram no lodo do trânsito e mostrarem que tinham aquela extensão motorizada da sua potência genital. Passou a ser tempo de gente em que era questão de pedigree viver no condomínio fechado e sobretudo dizê-lo, em que luxuosas revistas instigavam em couché os feios a serem bonitos, à conta de spas e de marcas, assim se visse a etiqueta, em que a beautiful people era o símbolo de status como a língua nos cães para a sua raça.

Foram anos em que o campo tornou-se num imenso resort de turismo de habitação, as cidades uma festa permanente, entre o coktail party e a rave. Houve quem pensasse até que um dia os serviços seriam o único emprego futuro ou com futuro.

O país que produzia o que comíamos ficou para os labregos dos pais e primos parolos, de quem os citadinos se envergonhavam, salvo quando regressavam à cidade dos fins de semana com a mala do carro atulhada do que não lhes custara a cavar e às vezes nem obrigado.

O país que produzia o que se podia transaccionar esse ficou com o operariado da ferrugem, empacotados como gado em dormitórios e que os víamos chegar, mortos de sono logo à hora de acordarem, as casas verdadeiras bombas relógio de raiva contida, descarregada nos cônjuges, nos filhos, na idiotização que a TV tornou negócio.

Sob o oásis dos edifícios em vidro, miragem de cristal, vivia o mundo subterrâneo de quantos aguentaram isto enquanto puderam, a sub-gente. Os intelectuais burgueses teorizavam, ganzados de alucinação, que o conceito de classes sociais tinha desaparecido. A teoria geral dos sistemas supunha que o real era apenas uma noção, a teoria da informação, substituía os cavalos-força da maquinaria pelos megabytes de RAM da computação universal. Um dia os computadores tudo fariam, o ser humano tornava-se um acidente no barro de um oleiro velho e tresloucado, que caído do Céu, morrera pregado a dois paus, e que julgava chamar-se Deus, confundindo-se com o seu filho e mais uma trinitária pomba.

Às tantas os da cidade começaram a notar que não havia portugueses a servir à mesa, porque estávamos a importar brasileiros, que não havia portugueses nas obras, porque estávamos a importar negros e eslavos.

A chegada das lojas dos trezentos já era alarme de que se estava a viver de pexibeque, mas a folia continuava. A essas sucedeu a vaga das lojas chinesas, porque já só havia para comprar «balato». Mas o festim prosseguia e à sexta-feira as filas de trânsito em Lisboa eram o caos e até ao dia quinze os táxis não tinham mãos a medir.

Fora disto os ricos, os muito ricos, viram chegar os novos-ricos. O ganhão alentejano viu sumir o velho latifundário absentista pelo novo turista absentista com o mesmo monte mais a piscina e seus amigos, intelectuais claro, e sempre pela reforma agrária e vai um uísque de malte, sempre ao lado do povo e já leu o New Yorker?

A agiotagem financeira essa ululava. Viviam do tempo, exploravam o tempo, do tempo que só ao tal Deus pertencia mas, esse, Nietzsche encontrara-o morto em Auschwitz. Veio o crédito ao consumo, a conta-ordenado, veio tudo quanto pudesse ser o ter sem pagar. Porque nenhum banco quer que lhe devolvam o capital mutuado quer é esticar ao máximo o lucro que esse capital rende.

Aguilhoando pela publicidade enganosa os bois que somos nós todos, os bancos instigavam à compra, ao leasing, ao renting ao seja como for desde que tenha e já, ao cartão, ao descoberto autorizado.

Tudo quanto era vedeta deu a cara, sendo actor, as pernas, sendo futebolista, ou o que vocês sabem, sendo o que vocês adivinham, para aconselhar-nos a ir àquele balcão bancário buscar dinheiro, vender-mo-nos ao dinheiro, enforcar-mo-nos na figueira infernal do dinheiro. Satanás ria. O Inferno começava na terra.

Claro que os da política do poder, que vivem no pau de sebo perpétuo do fazer arrear, puxando-os pelos fundilhos, quantos treparam para o poder, querem a canalha contente. E o circo do consumo, a palhaçada do crédito servia-os. Com isso comprávamos os plasmas mamutes onde eles vendiam à noite propaganda governamental, e nos intervalos, imbelicidades e telefofocadas que entre a oligofrenia e a debilidade mental a diferença é nula. E contentes, cretinamente contentinhos, os portugueses tinham como tema de conversa a telenovela da noite, o jogo de futebol do dia e da noite e os comentários políticos dos "analistas" que poupavam os nossos miolos de pensarem, pensando por nós.

Estamos nisto.

Este fim-de-semana a Grécia pode cair. Com ela a Europa."
 
A Revolta das Palavras - post por José António Barreiros em 2011.10.11

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NÃO É CUNHADO, É O IRMÃO DO AMANTE DA MINISTRA DA JUSTIÇA porra!

"À ministra da Justiça  (Publicado às 00.36)

Depois de andar a acusar-me de lhe dirigir ataques pessoais, a sra. ministra da Justiça veio agora responder à denúncia que eu fiz de ter usado o cargo para favorecer o seu cunhado, Dr. João Correia. Diz ela que não tem cunhado nenhum e que isso até se pode demonstrar com uma certidão do registo civil. Já antes, com o mesmo fito, membros do seu gabinete haviam dito à imprensa que ela é divorciada.

Podia explicar as coisas recorrendo à explícita linguagem popular ou até à fria terminologia jurídica que têm termos bem rigorosos para caracterizar a situação. Vou faze-lo, porém, com a linguagem própria dos meus princípios e convicções sem deslizar para os terrenos eticamente movediços em que a sra. ministra se refugia.

A base moral da família não está no casamento, seja enquanto sacramento ministrado por um sacerdote, seja enquanto contrato jurídico homologado por um funcionário público. A base moral da família está na força dos sentimentos que unem os seus membros. Está na intensidade dos afectos recíprocos que levam duas pessoas a darem as mãos para procurarem juntas a felicidade; que levam duas pessoas a estabelecerem entre si um pacto de vida comum, ou seja, uma comunhão de propósitos existenciais através da qual, juntos, se realizam como seres humanos. Através dessa comunhão elas buscam em conjunto a felicidade, partilhando os momentos mais marcantes das suas vidas, nomeadamente, as adversidades, as tristezas, as alegrias, os triunfos, os fracassos, os prazeres e, naturalmente, a sexualidade.

O casamento, quando existe, agrega tudo isso numa síntese institucional que, muitas vezes, já nada tem a ver com sentimentos, mas tão só com meras conveniências sociais, morais, económicas ou políticas. Por isso, para mim, cunhados são os irmãos das pessoas que, por força de afectos recíprocos, partilham entre si, de forma duradoura, dimensões relevantes das suas vidas.

É um gesto primário de oportunismo invocar a ausência do casamento para dissimular uma relação afectiva em que se partilham dimensões fundamentais da existência, unicamente porque não se tem coragem para assumir as consequências políticas de opções que permitiram que essa relação pessoal se misturasse com o exercício de funções de estado, chegando, inclusivamente, ao ponto de influenciar decisões de grande relevância política.

Tal como o crime de violência doméstica pode ocorrer entre não casados também não é necessário o casamento para haver nepotismo. Basta utilizarmos os cargos públicos para favorecermos as pessoas com quem temos relações afectivas ou os seus familiares. Aliás, é, justamente, aí que o nepotismo e o compadrio são mais perniciosos, quer porque são mais intensos os afectos que o podem propiciar (diminuindo as resistências morais do autor), quer porque pode ser mais facilmente dissimulado do que no casamento, pois raramente essas relações são conhecidas do público.

Aqui chegados reitero todas as acusações de nepotismo e favorecimento de familiares que fiz à Sra. Ministra da Justiça. Mas acuso-a também de tentar esconder uma relação afectiva, unicamente porque não tem coragem de assumir as consequências políticas de decisões que favoreceram o seu cunhado, ou seja o irmão da pessoa com quem ela estabeleceu essa relação. Acuso publicamente a Sra. Ministra de tentar tapar o sol com a peneira, procurando dissimular uma situação de nepotismo com a invocação de inexistência de casamento, ou seja, refugiando-se nos estereótipos de uma moralidade retrógrada e decadente.

A sra. ministra da Justiça tem o dever republicano de explicar ao país por que é que nomeou o seu cunhado, dr. João Correia, para tarefas no seu ministério, bem como cerca de 15 pessoas mais, todas da confiança exclusiva dele, nomeadamente, amigos, antigos colaboradores e sócios da sua sociedade de advogados. Isso não é uma questão da vida pessoal da Sra. Ministra. É uma questão de estado.

Nota: Desorientada no labirinto das suas contradições, a sra. ministra da Justiça mandou o seu chefe de gabinete atacar-me publicamente, o que ele, obediente, logo fez, mas em termos, no mínimo, institucionalmente incorrectos. É óbvio que não respondo aos subalternos da sra. ministra, por muito que eles se ponham em bicos de pés.


Marinho Pinto
Bastonário da Ordem dos Advogados"