sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pensamentos à solta



“Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão.”
Blaise Pascal - Matemático, Físico e Filósofo (1623 - 1662)


Estou sentado no meu maple predilecto e tenho em frente de mim, deitada e a olhar-me fixamente, a minha cadela «Rafeira do Alentejo» - a Lara, com os seus maravilhosos olhos castanho mel. Mergulho a visão nesse olhar terno e os pensamentos começam a fluir em turbilhão, que a mente mal consegue acompanhar. Num ápice, toda a minha vida e a da humanidade passa como um relâmpago perante os meus olhos absortos. Confundem-se as duas numa só, como se o meu ser já fizesse parte do infinito, onde o tempo pára e as distâncias se distorcem.
À escala macroscópica, a história da Humanidade não passa de um pequeno traço na imensidão dos muitos milhões de anos que nos afastam do ponto inicial - o Big Bang. Aquele em que «tudo», matéria, anti-matéria, campos gravítico e magnético, etc..., estavam confinados a um ponto !
"No princípio era o verbo". Seria ? E o que significaria "o verbo" ?
Quando estávamos convencidos de que tudo se regeria pelas Leis de Newton, eis que Einstein nos mostrou que tudo era «relativo». Claro que as fórmulas, milhares de vezes por si revistas, levavam-no a crer que alí faltava qualquer coisa... Estavam 99,9999% certas mas faltava alí qualquer coisa. O que é que o Grande Arquitecto do Universo saberia que ele não fosse capaz de descobrir ? Não havia tempo a perder com esta dúvida terrível que o atormentava e o melhor era introduzir ali uma «constantezita» e dava tudo certo. Afinal "Deus não jogava dados" e nada poderia contrariar essa convicção. Convicção que agora se verificou não ser exactamente correcta pela publicação recente de uma carta inédita em que Einstein afirma não acreditar na existência de Deus nem num «povo eleito» - o povo judeu, ao qual contudo se afirma orgulhoso de pertencer.
E quando tudo parecia encaixar bem na "teoria da relatividade", Stephan Hawking aparece para baralhar tudo e provar que a mesma se não aplica ao «infinitamente pequeno», do domínio da chamada mecânica quantica, e prova a existência da anti-matéria, mais conhecida por "buracos negros", dedicando-se desde aí à tentativa de estabelecer uma "teoria unificada" que se aplique a todo o Universo e regendo simultâneamente a cadeira da Universidade de Câmbridge que Sir Isaac Newton havia lecionado em 1669.
E a pequena-longa história da Humanidade parece assim resumir-se ao tempo dos fantásticos avanços científicos do século passado e início do presente.
Aquele em que se assistiu ao advento das indústrias baseadas em tecnologia de ponta, nomeadamente a informática, aeronáutica, espacial, telecomunicações e sua globalização. Aquele em que no espaço de uma geração se assistiu ao maior número de convulsões e transformações sociais, bem como à degradação progressiva das condições de habitabilidade do nosso planeta provocada pela ganância da espécie humana, a única que mata sem ser para se alimentar !
Tempo de uma guerra mundial que destruiu a Europa e sua reconstrução e unificação, da revolução bolchevique de 1917 e seu desmoronamento, de fome e revolução num país de 2 biliões de habitantes e da sua ascenção ao estrelato de um capitalismo neo-liberal a par de uma imensa parte da sua população aínda a viver uma luta diária pela sobrevivência, tempo de guerra pela posse de recursos naturais em todo o planeta.
E tempo de cataclismos atingindo a grande maioria dos mais desfavorecidos, de extermínios étnicos, de fome...de fome de alimentos e de cuidados básicos de saúde como uma simples vacina contra o tétano.
Para trás ficam milhões de anos de percurso da espécie humana só para descobrir a ferramenta, a lança, o fogo, a roda, a guerra...
À escala macroscópica, a minha vida resume-se a um ténue ponto na imensidão dos muitos milhões de anos que nos afastam do ponto inicial. Naturalmente...nascimento, vida e morte. Tal como acontecerá à Lara e de acordo com os prazos que o Grande Arquitecto do Universo destinou à sua espécie.
E é este sentimento de perda anunciada que faz com que acorde dos meus pensamentos e volte a focar os seus olhos. E o seu terno castanho mel lembra-me de que ela estará sempre fielmente ao meu lado enquanto não acabar o seu tempo. E que a minha alma chorará lágrimas de sangue se isso acontecer antes de mim.


Dedicado à Lara, que tem alegrado os meus dias nos últimos três anos

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