quarta-feira, 28 de maio de 2008

O cinema está de luto - morreu Sidney Pollack



Foi actor, produtor e realizador
Sydney Pollack: Ele era Hollywood


Teve três vidas no cinema – foi actor, produtor e realizador – e usou-as todas contra ele e a favor de Hollywood. Não foi só um realizador que se abateu, anteontem. Há uma certa maneira de fazer filmes que também não sai daqui viva.
O realizador norte-americano de origem judaica morreu em casa, num subúrbio de Los Angeles, aos 73 anos. Sabia que tinha cancro há dez meses, mas os médicos nunca descobriram de onde vinha.
Usou as três facetas da sua vida todas a favor de Hollywood, e de uma maneira antiquada de fazer cinema em que acreditou até ao fim, apesar de todos os sinais de um certo fim dos tempos.
Nunca fez filmes fora de Hollywood, mas mesmo dentro de Hollywood fez os filmes dele, não os filmes da indústria: “Quando se tem uma carreira como a minha, tão identificada com Hollywood, com os grandes estúdios e as grandes estrelas, é inevitável que uma pessoa se pergunte se não devia ir à sua vida e fazer aquilo que o mundo considera filmes pessoais. Mas eu acho que enganei toda a gente. Eu sempre fiz filmes pessoais – só que os fiz noutro formato.
O formato dele não tinha as pretensões iconoclastas que teve o trabalho da geração seguinte – coisas como O Nosso Amor de Ontem (1973), TootsieQuando Ele era Ela (1982) e sobretudo África Minha (1985) tornaram o cinema dele suficientemente relevante – mais do que suficientemente intrigante – para o grande público, e coisas como Os Cavalos Também se Abatem (1969), As Brancas Montanhas da Morte (1972), Os Três Dias do Condor (1975) e A Calúnia (1981) tornaram o cinema dele suficientemente relevante para a crítica.
Fez alguns dos filmes mais influentes e mais memoráveis das últimas três décadas. Tinha uma sensibilidade política muito aguda e um profundo sentido do que estava em jogo a cada momento; sabia quais eram as questões a que o cinema tinha de dar resposta. E avançou e mudou à medida que o mundo avançou e mudou, não ficou fechado e engavetado numa década.
Sydney Pollack fez 20 filmes e teve dezenas de nomeações da Academia (nove para Os Cavalos Também se Abatem, na minha opinião o seu melhor filme de sempre, dez para Tootsie, onze para África Minha, que lhe deu finalmente os Óscares de melhor filme e de melhor realizador).
Pollack era um dos últimos, um dos melhores, representantes do studio system de Hollywood – um cineasta da velha escola que encontrou uma maneira de vingar lado a lado com os realizadores da nova Hollywood que chegaram ao cinema americano na década de 70”, dizia ontem o crítico Xan Brooks no blogue de cinema do "The Guardian". É essa a ideia: modéstia à parte, Sydney Pollack não fazia parte de Hollywood. Em certo sentido, ele era Hollywood.
Jornal Público - Inês Nadais - 27/05/2008

Veja o artigo original: Sidney Pollack: Ele era Hollywood

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