sexta-feira, 9 de maio de 2008

Angola - Telenovela em vários actos



09 Maio 2008 - 12h00
Banco BIC
Investimento angolano aposta no sector bancário e Energia


A entrada em Portugal do terceiro maior banco angolano é o corolário natural do crescente interesse daquele país africano nos negócios e empresas nacionais. O Banco Internacional de Crédito (BIC) assume-se como a porta de entrada do capital angolano no mercado nacional, que até ao momento tem estado concentrado em duas grandes áreas: a Energia (através da participação na Galp) e o sector financeiro.
Para fazer a ponte entre estes investimentos está o empresário Américo Amorim. Aliado de longa data da família Eduardo dos Santos, o ‘rei da cortiça’ vai utilizar a sua participação no Banco Popular (onde é o maior accionista individual) para ajudar o novo banco angolano a conquistar mercado, tal como fez com a Sonangol ao abrir as portas do capital da Galp...
O novo banco, que abriu ontem a sua primeira agência em Portugal, conta com a mesma estrutura accionista do seu homólogo angolano, ou seja, 25 por cento do capital é detido por Américo Amorim, 25 por cento é pertença da Sociedade de Participações Financeiras (SPF), empresa da filha do presidente de Angola, Isabel dos Santos, e 20 por cento encontra-se na posse do presidente executivo do banco em Angola, Fernando Teles. Em Portugal, o ex-ministro da Indústria Mira Amaral foi o nome escolhido para presidir ao conselho de administração da nova instituição financeira.
O ALIADO CHAMADO AMÉRICO AMORIM
Um dos mais antigos aliados dos interesses angolanos em Portugal é o empresário Américo Amorim, que escolheu a Sonangol como parceiro estratégico para conquistar o controlo da Galp Energia. A Sonangol detém 45% da Amorim Energia que controla 33% da Galp.
GOVERNO SATISFEITO COM INTERESSE AFRICANO
O Governo português já manifestou a sua 'satisfação' pelo interesse que Angola tem no mercado português. Numa visita oficial a Luanda, o ministro português dos Negócios Estrangeiros afirmou que 'um País que tem necessidade de captar investimento, tendo a possibilidade de ter empresas que têm confiança nas oportunidades que as empresas portuguesas e a economia portuguesa oferecem, como é o caso da Sonangol, só deve encarar essa realidade com satisfação'.
Luís Amado acrescentou que 'as regras são as regras do mercado, as relações são as relações entre empresas'. A mesma posição tem o ministro das Finanças. Teixeira dos Santos considerou 'infundados' os receios manifestados por alguns responsáveis sobre a entrada da Sonangol no capital do maior banco privado português (Millennium BCP) e da petrolífera nacional.
A GESTORA LIGADA AO SECTOR FINANCEIRO
A filha primogénita do presidente Eduardo dos Santos tem 25 por cento na nova instituição bancária, através da sua empresa Sociedade de Participações Financeiras (SPF). Isabel dos Santos licenciou-se em Engenharia em Londres e cedo mostrou as suas competências como gestora, em particular no sector financeiro. Em 2001, com o apoio do Grupo Espírito Santo, fez parte do núcleo fundado do BESA – Banco Espírito Santo Angola. Tem como próximo projecto criar uma biorrefinaria em Sines.
ESTRATEGA DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
O presidente executivo da Sonangol é o principal estratega do investimento angolano em Portugal. Manuel Domingos Vicente ocupa o lugar de vogal no Conselho de Administração da Galp Energia e tem assento no Conselho Superior do Millennium BCP, lugar que acumula com a de vogal no Conselho Geral e de Supervisão. Manuel Vicente foi protagonista de um episódio que criou embaraço ao Governo português ao afirmar que a Galp 'tem de obedecer às nossas instruções', referindo-se à operação em Cabo Verde...

Pedro H. Gonçalves / Miguel A. Ganhão

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