sábado, 24 de maio de 2008

Fim do Serviço Nacional de Saúde

O título que dou ao meu comentário não está errado, como alguém mais distraido poderia supôr.

A realidade é que as afirmações dos dois candidatos à presidência do PSD, Ferreira Leite e Passos Coelho, foram ora intencionais ora levianas, respectivamente.

Como muito bem li num dos comentários de um leitor do Expresso onde este texto foi também colocado, também entendo que o direito à Educação e à Saúde não é alienável a favor de entidades privadas cujo único objectivo é o lucro. São direitos consignados na Constituição e nada deverão colidir com a iniciativa privada.

Que Passos Coelho se afirme liberal ao ponto de renegar um princípio básico da social democracia europeia pode considerar-se uma «boutade». Mas vinda esta afirmação de Ferreira Leite é grave! Até porque já teve responsabilidades governamentais. E porque ela sabe bem qual o verdadeiro "valor" de uma declaração de IRS em Portugal, onde quase toda a "manifestação exterior de riqueza" vem de quem continua a apresentar impunemente declarações com rendimentos ao nível do ordenado mínimo nacional. E o que dizer daqueles que nem declaração entregam por estarem isentos e tiram do bolso um grosso maço de notas para pagar uma simples cerveja num qualquer café, ou o jantar num bom restaurante onde já não têm pejo em entrar até sem olhar para os preços afixados nos menus ?

Que os hospitais públicos necessitam de uma boa gestão, quer económica quer humana, estamos todos de acordo. Mas daí a concluir-se que o melhor é passarmos todos a subscrever seguros de saúde é um perfeito absurdo, a não ser que tenhamos como objectivo atingir o patamar dos EUA quando eles próprios querem inverter a sua situação.

Vivendo o País uma situação de depressão grave, em que a chamada «classe média» está a ser extinta pelas medidas do actual executivo e o crédito mal parado quer no sector do consumo quer no da habitação subiu respectivamente cerca de 40 e 15%, que social democrata pode considerar viável e razoável que uma família padrão (pai+mãe+1 filho) passe a ter mais um encargo mensal à volta dos 200 euros num seguro de saúde ? Qualquer dos candidatos tem a obrigação de saber que cerca de 50% da população portuguesa tem um nível de escolaridade que se limita ao ensino básico e que, trabalhando por conta de outrem, nunca passará o limite dos vencimentos ditos «dos 500 euros».

E o que dizer dos jovens com habilitações mas em busca de emprego e que só o conseguem nos "call center´s" e nas caixas de supermercados ?
Considero até grave que, sem se acautelar o aumento dos formandos em medicina, se tenha autorizado a abertura de tantos novos hospitais privados. Não por questões de ideologia mas por questões pragmáticas. Se os hospitais privados pagarem melhor, os públicos verão os melhores médicos sairem e um dia destes teremos de contratar médicos cubanos para nos tratar!

Ora minha senhora e meus senhores, já não há pachorra ! Nem para o Sócrates nem para nenhum de vocês !

Sem comentários: