sábado, 12 de julho de 2008

Situação das empresas petrolíferas na Nigéria


Operação das Companhias Estrangeiras de Petróleo na Nigéria e instabilidade no Delta do Niger


Segundo um artigo da revista The Economist de 12 de Julho,


"As companhias internacionais de petróleo nunca consideraram a Nigéria como um local muito hospitaleiro para a sua actividade. A corrupção e instabilidade política, bem como dois anos e tal de violentos ataques por parte de milicias locais a pedirem uma maior comparticipação dos lucros do petróleo do país, fizeram com que os trabalhadores da indústria petrolífera pensassem que a sua situação nunca poderia piorar mais do que já estava.
Mas, a realidade é que piorou. Apesar dos sucessivos recordes no preço do petróleo, algumas companhias estão a concluir que talvez tenham de abandonar a sua actividade onshore à medida que se debatem com o aumento de ataques por parte das milicias e um governo sedento de conservar para sí uma cada vez maior parte dos lucros do petróleo.
Na última semana, milícias em botes rápidos levaram a cabo o seu primeiro ataque de monta a uma instalação petrolífera em mar alto e águas profundas ao largo da costa nigeriana, anteriormente considerada fora do seu alcance. O ataque a uma plataforma gigante flutuante, com capacidade de armazenamento e abastecimento de navios ao largo, conhecida por FPSO, a cerca de 120km (75 milhas) da costa em pleno mar alto, forçou os operadores, Royal Dutch Shell, a suspender a sua produção do campo petrolífero de Bonga, bloqueando o fornecimento de cerca de 220,000 barris diários de petróleo, ou seja, cerca de 10% de toda a produção Nigeriana de crude.
Os problemas de falta de segurança já haviam sido considerados como a principal razão para uma rápida baixa no interesse em manter a operação petrolífera em terra: Christophe de Margerie, chefe da Total SA, diz que a sua Companhia está a pensar duas vezes sobre a sua operação na Nigéria devido aos problemas associados à violência. Precisamente sobre este assunto e quase como que a justificar as suas palavras, horas depois do ataque de Bonga, um grupo de jovens não identificados perfuraram o pipeline da Chevron em terra, cortando a produção em mais 120,000 barris diários. Estes dois ataques fizeram com que o preço do crude se mantivesse em níveis elevados à volta dos 140 dólares por barril durante a presente semana, anulando a esperança surgida na última reunião na Arábia Saudita de que um aumento da produção Saudita pudesse provocar uma descida dos preços."
O resto do artigo
, que pode ler em «economist.com», pode resumir-se numa guerra latente entre as diversas Companhias Petrolíferas, que obtêm lucros fabulosos alegadamente devidos a acordos com os sucessivos regimes militares que governaram a Nigéria e a actuação unilateral dos actuais dirigentes, nomeadamente do actual presidente Umaru Yar´Aduae do seu Governo, os quais tentam impôr alterações profundas nas percentagens actuais, de modo a obterem mais lucros para o país.

Resta saber se para o país ou para sí próprios, o que vem sendo hábito na maior parte dos regimes africanos !
A verdade é que vários governos por todo o mundo têm vindo a mudar as regras sob as quais deverão operar as Companhias Petrolíferas, de modo a diminuir-lhes a sua margem de lucro.
Contudo, a «questionável reinterpretação» do governo Nigeriano é considerada como bastante problemática pelos analistas em Lagos.


Isto porque a produção offshore, especialmente em águas profundas do Golfo da Guiné, é altamente lucrativa para as companhias petrolíferas tais como a Shell e a Exxon, já que os contratos que possuem lhes garantem cerca de 20% de lucro em cada barril de crude, comparados com os cerca de 3 dólares de cada barril em instalações terrestres devido à utilização neste caso de uma fórmula de cálculo que é menos sensível aos altos picos de valores actuais.

Claro que, apesar destas alegadas quezílias, não é expectável que as Companhias Petrolíferas deixem de operar nestes países, uma vez que estão a obter lucros fabulosos apesar de terem de "largar" alguns benefícios em favor dos seus governos, aos quais também interessa que a extracção não cesse pois o negócio é de interesse mútuo. Não é portanto de estranhar que as Companhias Petrolíferas tenham acordado em «emprestar» ao governo Nigeriano 3.5 biliões de dólares, que este promete investir nas infraestruturas petrolíferas.
Por outro lado, a situação na Nigéria, após pouco mais de um ano de mandato do actual Presidente, parece estar longe de estabilizar, já que as mais importantes facções militarizadas que anseiam pelo poder recusaram já a proposta de paz apresentada pelo actual Presidente Yar’Adua’s para o Delta do Niger.
Como consequência, mais de 1/4 da produção nigeriana diária de 2,5 milhões de barris diários é mantida fora do mercado pela violência existente e sucessivos boicotes.
A quota de produção da Nigéria está fixada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em 2,1 milhões de barris por dia e é ultrapassada em condições normais para os 2,5 milhões referidos.
A capacidade de produção petrolífera da Nigéria estima-se em 3,2 milhões de barris por dia, mas a violência no Delta do Níger, onde os trabalhadores do sector petrolífero e outras pessoas são raptadas e as plataformas petrolíferas atacadas por militantes, reduziu fortemente a capacidade que ronda actualmente dois milhões de barris por dia.
Fica a dúvida sobre quem subsidia as milícias armadas, tendo por finalidade a manutenção de um valor altamente inflaccionado do crude !

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