terça-feira, 15 de julho de 2008

Recordando Bob Geldof, os meninos da rua, a miséria escondida e os mais ricos de Angola

Recordando Bob Geldof

Em complemento ao artigo anterior sobre as eleições legislativas previstas para Angola, após 16 anos de Governo Presidencialista de José Eduardo dos Santos em regime de alegada democracia, em que os antigos movimentos de libertação dividiram entre si o «bolo» do poder e o usaram em proveito próprio, talvez seja interessante relembrar que o "colonialismo" e o "racismo" têm muitas faces, muitas caras, muitas raças e muitas das vezes a mesma raça.

Angola foi vítima de muitos "...ismos". Não tivesse ela a riqueza que tem e certamente nenhum destes novos "colonialismos" como o cubano, o americano, o russo, o brasileiro e agora o chinês teriam dado um «tusto» por entrar na engrenagem do poder/petrodólares/diamantes.

E, no que se refere a racismo, posso afirmar que nunca tinha assistido a situações tão aviltantes de "racismo xenófobo pedante" por parte de luandenses africanos para com simples empregados, também eles africanos, como as que infelizmente tive de testemunhar no restaurante do Hotel Meridien em Luanda, em muitas das vezes que aí fui obrigado a alojar-me por motivos profissionais.

Para quem, como eu, teve aí a sua infância e considerou sempre o velho Filipe Cassoneca como um amigo, aquele pelo qual tive a honra de ser criado em conjunto com os meus Pais, aquele que me dava banho aos três anos, que me dava todas as respostas persistentes que uma criança dessa idade coloca a um adulto, que me gozava quando pronunciava mal as palavras que me ensinava em Kimbundo, atrás do qual eu andava sempre, que me ensinou a fazer armadilhas para os pássaros, etc., torna-se "i n s u p o r t á v e l" assistir ao aparecimento de uma pseudo-elite sem escrúpulos que ao longo de todos estes anos acabou por colonizar os seus próprios irmãos em proveito próprio e alheando-se completamente do destino daqueles a quem tudo falta, desde a saúde, subsistência e até a dignidade de um ser humano.

E, para que saibam um pouco mais sobre os nomes daqueles que, à custa do seu povo, dominam hoje o panorama económico de Angola, para além do seu próprio Presidente José Eduardo dos Santos, conto com a autorização expressa e prestimosa de transcrição do seguinte artigo do Blog UNIVERSAL - http://patriciaguinevere.blogspot.com/

"Este trabalho não está actualizado, mas vale a pena rever.

Essa quizombada de defender o povo angolano, esses negros idiotas, era uma mera questão de ganharmos tempo, até atingirmos o cume das nossas transferências bancárias. Para isso, bancos não nos faltam, não nos faltarão. Podemos chamar a esta cidade, além de cidade do pó, cidade dos bancos das injustiças luandenses.

É fácil enriquecer. Basta deixar os trabalhadores três a seis meses – e até alguns anos – sem vencimentos, e investir esse dinheiro. Também com tanta promiscuidade, e com tantos engenheiros- financeiros doutorados, mais que as esquinas, não constitui nenhuma sabedoria, nem trabalho, tanto enriquecimento fácil. Afinal, do petróleo e diamantes, os dividendos distribuem-se única e exclusivamente a meia dúzia de castelãos. Pensa, quem com as mãos e os pés se recompensa. Uma banalidade: meia dúzia de ricos… porque existem milhões a morrerem de fome.

Gil Gonçalves

Lista dos homens mais ricos da «nomenklatura» angolana...Escrito pelo Nicola Guardiola, com o título Os «novos-ricos Angolanos» apostam nos negócios.

«INVESTIR em Angola é agora a divisa dos nossos ricos» diz o «Semanário Angolense». O jornal, que causou escândalo em 2004 com a publicação da lista dos homens mais ricos da «nomenklatura» angolana, voltou à carga há duas semanas com um «retrato» dos grupos privados que proliferam em Angola, à boleia do «boom» económico e da intenção confessa do Governo de favorecer a criação de grupos privados nacionais e a sua entrada em sectores estratégicos como a banca, o petróleo ou os diamantes.

O director do «Semanário Angolense», Graça Campos, admite que a lista não é exaustiva e não se apoia numa aturada investigação. São os «negócios» que dão que falar e que ilustram a importância do lóbi político e a «apetência» dos investidores estrangeiros para formarem sociedades com figuras políticas do regime ou seus familiares. Com a devida vénia ao «Semanário Angolense», eis, em resumo e de A a Z, o retrato dos grupos privados mais «badalados» da actualidade em Luanda.·

ARMINDO CÉSAR & FILHOS·
No começo esteve a Maboque, empresa especializada em restauração, hotelaria e «catering». Diz-se que conta entre os seus accionistas com membros da família do Presidente Eduardo dos Santos e uma plêiade de generais. Mas nos últimos cinco anos o grupo cresceu e multiplicou-se.Actividade: as anteriores, mais pescas (captura e comercialização), hotelaria e turismo, imobiliário, comércio (hipermercado Interpark), formação profissional e serviços.

BANCO INTERNACIONAL DE CRÉDITO (BIC)
Isabel dos Santos, primogénita do Presidente Eduardo dos Santos, e o empresário português Américo Amorim (25%) são os principais accionistas. Criado em Junho, já abriu 13 balcões (8 em Luanda) e arrecadou mais de 165 milhões de dólares em depósitos.

BANCO COMERCIAL DE ANGOLA (BCA)
Inclui entre os seus accionistas três ex-primeiros-ministros: Lopo do Nascimento, França Van-Dúnem e Marcolino Moco. Salomão Xirimbimbi (ministro das Pescas), Augusto Tomás (ex-governador de Benguela, ex-ministro das Finanças) e o empresário Jaime Freitas (COSAL, Interauto, Tecnomat) são os outros sócios. Em 2005 vendeu 50% das acções ao Absa Bank, da África do Sul, que por sua vez foi comprado pelo Barclays Bank, do Reino Unido.

CABUTA ORGANIZAÇÕES
«Holding» criada pelo general Higino Carneiro, ministro das Obras Públicas e governador do Kwanza Sul, e família. Actividade: agricultura, agro-indústria, hotelaria, turismo, banca, seguros.

FINANGEST
Entre os accionistas figuram José Pedro de Morais, ministro das Finanças, general Pedro Neto, chefe do Estado-Maior da Força Aérea, e Kundi Paihama, ministro da Defesa. Actividade: jogos e lotarias, edição discográfica, transportes, serviços, construção, «import-export», seguros, segurança.

GEMA
Criada por Simão Júnior, o seu actual presidente é José Leitão, ex-chefe da Casa Civil da Presidência. Conta entre os seus accionistas com o jurista Carlos Feijó e António Pitra Neto, Vice-Presidente do MPLA e ministro do Emprego e Segurança Social. Actividade: supermercados, salas de cinema, clínica privada, accionista da Coca-Cola Angola, parcerias com empresas sul-africanas e chinesas.

GENI
Empresas dos sectores da banca, petróleo, diamantes e construção florescem como «boom» angolano. O FMI projecta um crescimento económico de 15% em 2005. O ponto de partida foi a criação da UNITEL (telefonia móvel) em parceria com a Portugal Telecom. Fundadores: Isabel dos Santos, brigadeiro Leopoldino Fragoso do Nascimento (chefe das Comunicações da Presidência), António Van-Dúnem (ex-secretário do Conselho de Ministros) e Manuel Augusto da Fonseca, do gabinete jurídico da Sonangol. Juntou-se-lhes o empresário franco-brasileiro Pierre Falcone. Actividade: telecomunicações, serviços.

GENIUS
Criada pelo general João de Matos (ex-chefe de Estado-Maior-General das FAA) e Mário Pizarro (ex-governador do BNA). A jóia da coroa do grupo é a GEVAL-AngolaJoint-Venture com a brasileira Vale do Rio Doce, n.º1 mundial de mineração.Actividade: minas (diamantes, manganésio, outros). Projectos: electricidade, telecomunicações. Participações: Torres do Carmo (Luanda), Belas Shopping Center

IMPORÁFRICA-IMPORCAR
Faustino Muteka ex-ministro da Administração do Território e actual secretário do MPLA para a mobilização é a figura-de-proa do grupo, a que estão associados capitais de Portugal à Índia. Actividade: construção civil, agricultura, comércio, venda de automóveis, imobiliário.

MACON
Revolucionou o transporte público em Luanda (autocarros e táxis). Hélder Vieira Dias, chefe da Casa Militar da Presidência e director do Gabinete de Reconstrução Nacional, brigadeiro Leopoldino Fragoso e Júlio Bessa, ex-ministro das Finanças, em parceria com o brasileiro Minoru Dondo são os sócios-fundadores. Actividade: transportes, comércio (o Shopping Center Kinaxixi está «encalhado» há dois anos).

MELLO XAVIER
Há muito que Jorge Mello Xavier deputado pelo MPLA em 1992 deixou de ser «o empresário do regime» mas continua activo, influente e irreverente. Actividade: construção civil, turismo, hotelaria, bebida, agro-indústria,

PECUS
Criada pelo grupo português Tecnocarro, de José Récio, foi vendida aos irmãos António e Luís Faceira. Actividade: produção e comercialização de carne, sector que lidera.

PRODOIL
Exploração e Produção de Hidrocarbonetos Associou-se à Amec Paragon (Houston, EUA). Entre os sócios angolanos citamos Marta dos Santos, irmã mais velha do Presidente da República. Actividade: petróleo, gás natural, serviços, hotelaria.

SAGRIPEK
Capital repartido entre um grupo de sócios angolanos (BAI, BPC, Banco Keve, Higino Carneiro, Mello Xavier, irmãos Faceira, Isabel dos Santos) que detém 51% e um consórcio brasileiro. Actividade: agricultura; pecuária, produção agro-industrial.

SOMOIL
Primeira empresa privada angolana a entrar na exploração de petróleo. Criada por Desidério Costa, ministro dos Petróleos, e Alberto de Sousa. Actividade: petróleo e derivados (lubrificantes) S

SUNINVEST
Dirigida por Ismael Diogo, cônsul de Angola no Rio de Janeiro e presidente da FESA (Fundação Eduardo dos Santos). Actividade: indústria farmacêutica (parceria com o Laboratório Teuto do Brasil), transportes urbanos, recolha de lixo (Luanda), comércio.

VALENTIM AMÕES
Veio para Luanda vindo do Planalto Central, onde possui um grande património imobiliário e controla boa parte do comércio. Entrou para o Comité Central do MPLA em 2004 e entre os seus sócios figura o general Fernando Miala, dos serviços de informação externos da Presidência. Actividade: transportes rodoviários e aéreos, hotelaria e turismo, «rent-a-car», comércio.

SEGURANÇA
As empresas de segurança merecem ser tratadas separadamente, pois foi por esta via que muitos generais se estrearam nos negócios e adquiriram o capital que lhes permitiu mais altos voos. São agora às centenas, mais ou menos sofisticadas, e fornecem todo o tipo de serviços, desde a segurança de instalações a escoltas pessoais, transportes de fundos e instalação de sistemas de vigilância. O «Semanário Angolense» destacou as seguintes:

ANGO SEGU
Empresa pioneira na segurança industrial. Tem como fundadores os generais Fernando Miala e José Maria e Santana André Pitra (Petroff) ex-ministro do Interior e comandante-geral da Polícia. ALFA 5 Criada pelo general João de Matos e outros oficiais generais. Controla 50% da segurança das grandes áreas de exploração de diamantes.

TELESERVICE
Monopólio da segurança dos campos petrolíferos. Os seus fundadores foram os generais João de Matos, França Ndalu, Armando da Cruz Neto, Luís e António Faceira e Hendrick. Participações na Air Gemini, Companhia do Lumanhe (diamantes) com a Escom, ligada ao Grupo Espírito Santo.

COPEBE Criada por Pedro Hendrick Vaal Neto (ex-ministro da comunicação social), Roberto Leal Monteiro «Ngongo» e Nelson Cosme, embaixador de Angola na Organização dos Estados da África Central."

Gil Gonçalves

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