terça-feira, 21 de junho de 2011

Vergonhas, teimosias e derrotas nesta democracia...

O cidadão comum conhecia o Dr. Fernado Nobre através da exposição mediática que os meios de comunicação social, nomeadamente os televisivos, lhe grangeavam pela sua ligação à AMI.

Figura de grande empatia e certamente respeitado por todos, ligada a uma causa nobre, entrava-nos em casa frequentemente através de reportagens vindas de locais de tragédia, trazendo por isso a si agarrada toda a dose de solidariedade que por vezes o povo português é capaz de manifestar.

Certamente que a maioria de quem o via nessas alturas não mostrava interesse especial em saber mais sobre a origem e percurso de vida deste homem, até ao momento em que um dia o mesmo se resolveu apresentar como candidato à Presidência da República, auto-associado a uma postura alegadamente  "independente" dos partidos políticos, mas "encostado voluntàriamente" ao BE e assumindo-se como a cabeça de um «movimento de cidadania» pretenso congregador de todo o descontentamento que, como se verificou uma vez mais, se traduz numa abstenção crónica acima dos 40% e que só interessa a quem pretenda jogar com o efeito que o método de Hondt aplicado aos votos desses resultados conduz, por permitir aquilo que qualquer cidadão deve, ou deveria saber, e que é uma aberração da democracia - o facto de se conseguir obter uma «maioria absoluta» com cerca de 30% do total dos cidadãos recenseados. 

O resultado dessa sua participação resultou na obtenção de cerca de 500.000 votos (14,10%) na sua candidatura nas últimas eleições presidenciais, eleições essas que, por se tratar de um segundo mandato de um PR em exercício, normalmente vêm sendo sempre ganhas pelo mesmo por percentagens de aprovação bastante elevadas.

Contudo, e curiosamente, o PR em exercício acabou por ganhar as eleições com uma percentagem de votos bastante mais baixa do que seria imaginável (52,94%), o que acabou por constituir uma «vitória de Pirro» para o Prof. Cavaco Silva, dado ter obtido a percentagem de votos a seu favor mais baixa que qualquer dos PR da 3ª República obteve até agora numa reeleição, inferior ao próprio valor da abstenção (53,37%)!

E aqui nasce, como normalmente neste País de D. Sebastiões, o MITO! E, como também normalmente por cá se passa, verifica-se que o MITO tem pés de barro, como é fàcilmente verificável pela numerosa informação circulada na Internet sobre a AMI e a profusa e obscura participação de quase toda a família do candidato na mesma e que é fàcilmente comprovável pelo organograma desta Fundação.

Tendo, entretanto, o País sido forçado a entrar numa fase politica que conduziu à dissolução da AR e a Eleições Legislativas antecipadas, com renovação dos líderes partidários dos dois maiores partidos com assento parlamentar e que conduziu à vitória de Passos Coelho no PSD, como sinal da ascenção das "Jotas" à maioridade, seria de imaginar que todo o cuidado fosse posto tanto nas propostas quanto na escolha quer dos candidatos a deputado do PSD, quer das figuras de proa a apresentar ao eleitorado.

E eis que Passos Coelho, mostrando claramente uma imaturidade política que não imaginávamos, e apesar de colocado perante um cenário de previsivel vitória tangencial e de necessidade de um governo de coligação naturalmente à direita, refazendo-se a «velha AD» com o CDS, apresenta Fernando Nobre como pré-candidato à presidência da AR.

E este, sabendo que tal cargo implica naturalmente conhecimentos e experiência que não possui, aceita sem a menor hesitação mostrando assim a sua verdadeira face, contra a opinião generalizada de desaprovação que se antevê através de numerosas manifestações na comunicação social e onde se inclui grande parte da sensibilidade interna do próprio PSD.

A sessão da AR de ontem, com o «chumbo» repetido em dobro da sua pretensão ao cargo, é bem demonstrativa do estado de descrédito a que a política e os políticos em Portugal atingiram nos últimos tempos.

Só quem não viu as imagens consternadas do próprio candidato e de Paula Teixeira da Cunha em grande plano nos ecrãs televisivos é que não sentiu a verdadeira frustação que o PSD dos "Jotas" estava a passar naquele momento, por culpa exclusiva do seu recém eleito líder.

Sem sombra de dúvidas que, para além da derrota de Fernando Nobre que politicamente é de somenos importância e o conduziu ao descrédito, estivémos perante a primeira grande derrota de Passos Coelho e a marcação de uma presença forte na coligação por parte de Paulo Portas.

Quem isso não quiser ver, estará a enganar-se a si próprio e a meter a cabeça na areia, qual avestruz no deserto.

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