quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ética e princípios, equívocos e hesitações...


Manuel Alegre, tal como Mário Soares e outros elementos fundadores do PS aquí não nomeados para simplicidade de análise, foi sempre considerado um dos garantes depositários de um conjunto de princípios éticos, políticos e sociais definidores programáticos da origem social-democrata do Partido Socialista original.

Não foi por acaso que o PS se inseriu naturalmente no grupo europeu dos partidos de base social-democrata, muito por influência do então chanceler alemão Willy Brandt, com quem Mário Soares manteve ao longo dos tempos uma ligação muito estreita, enquanto que ao PSD acabou por ficar reservada a ligação ao movimento liberal.

Claro que estamos a falar de princípios programáticos, de teoria política e não da prática que norteia actualmente quer os partidos políticos portugueses quer os cidadãos deste País desencantado, ou «equivocado», melhor dizendo.

Isto porque, mudando-se os tempos e as vontades, neste caso para pior, a evolução em sentido acentuadamente descendente da «praxis política» e da «consciência cívica» dos cidadãos portugueses tem vindo a seguir a mesma evolução negativa que caracteriza os sectores da educação, da saúde, do emprego e das finanças. Ou, vistas bem as coisas, esta evolução em regressão será consequência inevitável daquelas, por muitas crises exteriores que se queiram invocar como desculpa !

Deixaremos a análise aprofundada da situação actual do sistema político português para outra oportunidade e orientemos a nossa atenção para «a notícia» em que se transformou a personagem ´Manuel Alegre´, nas expectativas que gerou e se geraram à sua volta, no acerto e desacerto das oportunidades políticas que se lhe apresentaram nos últimos três anos, na coragem política de alguns momentos e simultânea incongruência face a atitudes de complacência contraditórias com posições públicas assumidas anteriormente.

Voltando um pouco atrás, será necessário recordar as condições internas muito difíceis que caracterizaram a disputa eleitoral para secretário-geral do PS entre Manuel Alegre e José Socrates. Aos apoiantes daquele, «velhos» históricos e militantes sem ligação real às estruturas do «aparelho», opunham-se todos os recentes arrivistas da política instalados em tudo o que é sítio do aparelho partidário, nomeadamente nas comissões políticas, municípios e freguesias, assembleias municipais e de freguesia, etc., os quais constituem actualmente uma enormíssima maioria dos actuais deputados do PS na Assembleia da República.

Mas, para quem queira ser sério na análise, não pode deixar de verificar que o mesmo se passou relativamente aos outros partidos politicos como o PSD e o CDS. Basta uma consulta um pouco mais atenta ao site da AR e aos curriculum dos vários deputados para se poder constatar este facto.

Aínda em relação às eleições para secretário-geral do PS, há testemunhos de votações em assembleias de voto em que os membros da mesa diziam aos militantes em voz alta: "vê lá se votas no Sócrates e não no Alegre, ouviste?".

E eis que, de tudo isto parece ter emergido um «outsider» depositário de todas as esperanças dos desiludidos do PS e também dos de outros partidos charneira, ou mesmo do chamado «eleitorado flutuante» !

E será que a prática política dos últimos três anos deste «outsider», que se assume teimosamente como um «insider» incómodo justifica o nível de esperança nele depositado ?

A resposta a esta questão poderá estar na incongruência entre as persistentes ausências de Manuel Alegre nas sessões plenárias da AR, nas suas constantes votações ao lado dos seus pares mas com uma «declaração de voto» justificativa, nas afirmações antecipadas aos media contrariadas por posições complacentes na altura das votações.

É uma realidade que, tendo sido candidato à Presidência da República a «contra-vapor» da vontade da comissão política actual do PS e do seu secretário-geral, conseguiu uma votação histórica de cerca de 30%. Mas será que esta votação não foi influenciada pelo efeito do voto útil anti Cavaco ?

Alguém acredita que a formação de um novo partido político encabeçado por Manuel Alegre garanta à partida 30% dos votos ? Nem o próprio, a crer nas afirmações recentes de que "não pretende constituir um clubezinho".

O povo português já poderia ter lido nas entrelinhas das afirmações de Manuel Alegre que as mudanças no PS deverão vir de «dentro» do mesmo.

E alguém aínda acredita que, na actual situação de falta de ética, princípios e de consciência política e cívica a que os sucessivos governantes deste País conduziram o povo português, apareça uma vaga de fundo que altere o actual panorama ?

Ou continuamos eternamente à espera do D. Sebastião que se segue ?

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