terça-feira, 5 de julho de 2011

Gente rasca sem pingo de vergonha na cara

Há algum tempo, tive uma troca animada de opiniões numa espécie de fórum com um amigo aparentemente de sensibilidade mais alaranjada do que eu pensava, bem ao tom da nova vaga.

O assunto era o do «caso» Fernando Nobre e ele, depois de ter lido o artigo "Vergonhas, teimosias e derrotas nesta democracia...", questionava-me candidamente quanto ao título escolhido no que se referia ao termo «Vergonhas». E perguntava-me, aparentemente ofendido com o termo, vergonha porquê ?

E dizia-me também, à laia de explicação simples, que tudo não tinha passado do seguinte: Teria havido uma pessoa que ambicionava muito uma posição, outra que se tinha comprometido sob palavra a proporcioná-la e que cumpriu a sua palavra, tendo havido uma eleição a qual não tinha sido concretizada a seu favor, o que era normal em democracia. E mantinha a pergunta: vergonha, porquê ?

Confesso que, sendo meu amigo, me senti um pouco constrangido em aprofundar a questão na altura, tanto mais que o referido artigo era suficientemente elucidativo e a sua interpretação se me afigurava demasiado simplista e em certa medida inocente e infantil. Espero que ele, ao ler agora estas palavras tenha o bom senso de as avaliar no contexto certo e ver que não reflectem um juizo de valor sobre a sua pessoa em si mas sim sobre a falta de «calo» (não lhe chamarei cinismo, porque o não julgo capaz de tal postura) que esta nova vaga de J´s e pró-J´s vêm demonstrando.

Entretanto, foi publicado aqui o artigo "AMI - Fernando Nobre & Cia", o qual não deixa margem para dúvidas e que não sei se se deu ao trabalho de ler. Estando Fernando Nobre sentadinho na AR até hoje, a ocupar o seu lugar de deputado conquistado pelo voto popular depois de ter vendido a alma ao diabo, não tencionava voltar ao assunto.

Mas eis que hoje, o mesmo Fernado Nobre, aquele que se colou ao Bloco de Esquerda nas últimas eleições presidenciais e aí conquistou 500.000 votos, que de repente deu uma guinada para os lados do PSD e que seguidamente se propôs (ou lhe prometeram) ser o futuro Presidente da Assembleia da República, resolveu abdicar do seu lugar de deputado após dois dias de presença no hemiciclo!

E, chegados aqui, já não me podem pedir que seja comedido, que não "ofenda" a sensibilidade do meu amigo, pois o dever de dizer a verdade em tom bem alto suplanta tudo, sob pena de ser eu próprio o desavergonhado que nunca fui e nunca serei.

E aqui vão as razões porque a falta de vergonha dos envolvidos é escaldante e não pode ser calada:
  1. Passos Coelho, sabendo que o cargo de Presidente da AR tinha claramente exigências quanto a conhecimentos e experiência que Fernando Nobre não possuia, propô-lo para o mesmo apesar de ter consciência da própria oposição interna de muitos dos seus colegas de partido com mais bom senso;
  2. Fernando Nobre, sabendo que o cargo de Presidente da AR tinha claramente exigências quanto a conhecimentos e experiência que não possuia, aceitou candidatar-se a esse cargo (desejou ou exigiu-o) apesar de ter consciência da própria oposição interna de muitos deputados do PSD com mais bom senso do que o seu lider;
  3. À posteriori, Passos Coelho veio dar o dito por não dito no que se refere ao que havia afirmado sobre o 13º mês dos portugueses;
  4. São estas mesmas pessoas que chamavam MENTIROSO COMPULSIVO a José Sócrates;
  5. Na minha opinião Passos Coelho e Fernando Nobre não têm um pingo de vergonha na cara nem mais carácter do que o anterior PM. Estão exactamente ao mesmo nível, o mais rasteiro e traiçoeiro possível.

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